quinta-feira, 14 de novembro de 2013

COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO - ARTIGO DE OPINIÃO


 Programa “Mais Médicos” e as dificuldades linguísticas

    No programa “Mais Médicos” do governo federal foram confirmados pelo ministério da saúde 18.450 médicos inscritos no primeiro ciclo de contratação, com o intuito de atender a 3.511 municípios no sistema único de saúde (SUS). Os médicos (em sua maioria de nacionalidades cubana, argentina e espanhola) estão sendo direcionados a cursos de saúde básica, sistema de saúde brasileira e língua portuguesa.
      Estes profissionais, por sua vez, encontrarão muitas dificuldades, como postos de saúde superlotados e falta de estrutura, medicamentos e aparelhos. Muitos deles já haviam atuado em programas como “Médicos Sem Fronteiras”, onde a escassez de recursos é frequente e os problemas linguísticos também são encontrados, porém estes fatores não os impediram de salvar vidas.
    Atualmente de acordo com o portal R7 de jornalismo, 3.663 médicos já desembarcaram e beneficiam 12,8 milhões de brasileiros. Atendendo a 1.098 municípios e 19 distritos indígenas, em sua maioria no norte e nordeste.
      Um dos principais problemas no programa Mais Médicos é o fato de ser visto com aversão por uma maioria brasileira. O programa visa resolver um problema imediato no Brasil, mas estes profissionais irão enfrentar a falta de apoio médico, enfermeiros e auxiliares, além de terem de se adaptar às variedades linguísticas do país (a comunicação entre médico e paciente é umas das principais queixas da população). Uma vez que já não temos uma estrutura básica aceitável para atender às demandas de pacientes, a dificuldade na comunicação pode agravar ainda mais o caso.                 
      Porém, se pensarmos no caso do programa “Médicos Sem Fronteiras”, podemos verificar uma vertente na situação, afinal, a grande maioria destes médicos atuou em países da África, Haiti e na Ásia, e ainda com toda dificuldade linguística e de estrutura (que muitas vezes tinha que ser completamente improvisada nestes países), eles fizeram a diferença salvando vidas e desdobrando-se para encontrar saídas para doenças sem o apoio de aparelhos médicos. No Brasil, no entanto, estão recebendo curso de língua portuguesa para enfrentar uma grande barreira linguística, e ao final do curso, se não apresentarem um desempenho satisfatório, podem ser mandados de volta a seus países.
      No inicio do curso, o ministro da saúde Alexandre Padilha, ponderou que os médicos terão ajuda com a língua e serão avaliados por suas capacidades de comunicação e expressão. O ministro também afirmou que ele mesmo já atendeu vários indígenas (mesmo sem saber uma palavra indígena), o que não o impediu de realizar o seu trabalho como médico satisfatoriamente, pois contava com o apoio de enfermeiros e agentes de saúde indígenas, apoio o qual também terão acesso os médicos estrangeiros.
    Isso nos leva a crer que as dificuldades linguísticas dos médicos podem ser superadas cada vez mais com o tempo de trabalho, já que o curso será disponibilizado via online para os profissionais durante os três anos do programa. Os próprios médicos alegam que o maior desafio é com a questão linguística, e até um dicionário com dialeto e gírias locais foi disponibilizado a estes profissionais.
    A língua portuguesa acabou, portanto, se tornando um instrumento médico, que pode salvar vidas. A importância da comunicação se tornou mais acentuada, nos mostrando cada vez mais que a capacidade de expressão e interpretação é tão necessária quanto um remédio para a cura de uma doença.
    Esperemos então que esta medida do governo não seja só mais uma ação política, e que estes médicos, mesmo não tendo que passarem pelo Revalida (exame nacional de revalidação do diploma médico), demonstrem a competência nas formas de comunicação e nas ações que precisamos no sistema de saúde público brasileiro. Esperemos também que logo, todos eles não precisem mais dos intérpretes no atendimento aos pacientes, e que eles aprendam o nosso bom português, em suas variações, para que não haja confusões como na simples palavra “grávida”, que em espanhol é “embarazada”.

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