sexta-feira, 30 de maio de 2014

APS - POESIA PORTUGUESA

Introdução

A maior parte dos poetas portugueses, em seus poemas, exaltam as mulheres. Outros poetas fazem exatamente o contrário, reduzem sua imagem física e intelectualmente, e em alguns casos até as culpam por seus fracassos. A descrição da mulher, nos poemas, é realizada através de detalhes sentimentais, passando assim, a ideia de que ela seja a origem do sentimento.
      A sobrevalorização concedida tradicionalmente a uma figura feminina que viveu entre o século XVII e primeiras décadas do século XVIII, fez com que a mulher fosse considerada por muitos um ícone.
Dentre as escritoras portuguesas que ficaram na obscuridade ou semiobscuridade, Soror Mariana, a qual teria escrito as famosas Cartas Portuguesas pode ser em parte causa da relativa obscuridade das Autoras portuguesas contemporâneas e que viveram nos séculos seguintes. Isto porque, conforme a posição defendida por Klobucka na sua obra a atribuição da Autoria de Cartas Portuguesas a Mariana Alcoforado é, ao que tudo indica fictícia, tendo o mesmo acontecido com Violante de Cisneyros e outras ficções de autoria masculina atribuída à pena feminina, tradição que recua até à época medieval com as cantigas de amigo. O que não significa que a obra não tenha exercido influência nas obras que são de fato de autoria feminina em Portugal, influência essa que se manifesta em várias autoras do século XX, como acontece com a poesia de Florbela Espanca.

Os conceitos ideológicos comparados ao decorrer dos séculos

Trovadorismo

A mulher no trovadorismo tinha algumas semelhanças e diferenças. No trovadorismo a mulher era desejada pelos homens, era tida como um ideal masculino. Chegava um ponto que os homens escreviam cantigas para as moças. Hoje em dia o homem conquista a mulher de outra forma.
A mulher na Sociedade Medieval aprendia cedo os afazeres domésticos. Ela não trabalhava, se comprometendo, desta forma, somente as atividades domésticas e à educação dos filhos. Não interferia nas decisões políticas e praticamente não tinha direitos, suas obrigações eram, resumidamente, saber se portar diante de outras pessoas. Os pais eram quem designavam às filhas com quem iriam se casar.  

“Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;

com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?”

(Afonso Eanes de Coton)
     

Renascimento

Ao longo do tempo, a mulher era considerada como objeto de reprodução e como dona de casa. Ela não tinha o poder de mandar e nem de expressar suas ideias. Inconformadas, muitas mulheres se rebelaram, muitas tiveram que dar a sua própria vida em troca de uma posição melhor na sociedade, principalmente no trabalho, na política, e nos direitos sociais.
Contudo, nessa época, muitas se destacaram. Com o passar do tempo, a visão que a sociedade e principalmente os homens tinham em relação à mulher, foi mudando. Com isso, elas foram conquistando seu espaço na sociedade, conseguindo empregos e seus direitos.
O preconceito ainda não morreu dentro das pessoas, mas está desaparecendo. Na atualidade, há mulheres que têm se destacado muito mais na área do trabalho do que os homens. Porém, devido ao preconceito que ainda existe na sociedade, o salário da mulher não é devidamente remunerado.

Classicismo

A arte clássica  era naturalista e objetiva; a realidade era idealizada pelo artista. A mulher amada era descrita como  um ser celestial, igual aos anjos; a natureza era vista como uma região paradisíaca, onde a paz e a harmonia de bosques e florestas eram mostradas.

Barroco

       A mulher barroca é descrita nos poemas como alguém dual, incapaz de receber somente elogios, pois neste período passa-se a perceber o outro lado feminino, aquele que não é apenas positivo, mas também negativo, acabando-se, assim, com a concepção da figura do ser perfeito. É comum, ao Barroco, mostrar a dualidade, os dois polos opostos -, em que nada é tão positivo, nada é tão negativo, tudo tem os dois lados.
Sempre mostrada em termos de excelência, a mulher foi vista como um ser desejado pela beleza do seu corpo e cujos atributos superavam tudo quanto à natureza pudesse oferecer de belo. Se, por um lado, a mulher barroca foi apresentada como exemplo de beleza, paradoxalmente, ela tornou-se alvo, também, de críticas. Deste modo, salientaram-se algumas imperfeições e defeitos físicos, e alguns vícios repulsivos, como a ganância por dinheiro e a ambição desmedida. A licenciosidade de certas mulheres também não escapou ao reparo dos poetas.

Arcadismo

A mulher no arcadismo teve uma grande divulgação pelo Bocage, árcade, já é romântico por temperamento.  Dentro desta temática, outro procedimento típico da poesia árcade de Bocage é a comparação entre a mulher amada e a natureza. Evidentemente, como seria de se esperar, o resultado de tal processo é a constatação da beleza incomparável da mulher. Encontramos, ainda, textos em que a alegria dos amantes é tão grande que pode despertar a inveja dos deuses.

Nascemos para amar; a Humanidade
Vai, tarde ou cedo, aos laços da ternura.
Tu és doce atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão na alma se apura,
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abisma nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.

Nascemos para Amar - Bocage, in 'Sonetos'


Romantismo

A mulher, entre os românticos, aparece convertida, em anjo, em figura poderosa, inatingível, capaz de mudar a vida do próprio homem. A mulher era vista pelos escritores românticos como um ser distante, que era idealizado por aquele que amava. Esta idealização se expressava nos elogios de que era objeto e na sensação de que não se era digno de merecer o amor desta mulher. No período romântico a mulher vivia essencialmente no ambiente doméstico, ou como ajudante nos ambientes sociais, acompanhando o cavalheiro, servindo-lhe de adorno. As leituras femininas circunscreviam-se, em sua maioria, aos romances franceses, enquanto os homens aventuravam-se pela política, pela filosofia e pelas ciências em geral.

Estás tão bonita hoje. Quando digo que nasceram
Flores novas na terra do jardim, quero dizer
Que estás bonita.

Entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
Abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
De ouro.

Entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
Se tocasse a pele do teu pescoço.

Há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

Estás tão bonita hoje.

Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

Estás dentro de algo que está dentro de todas as
Coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
A beleza.

Os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

De encontro ao silêncio, dentro do mundo,
Estás tão bonita é aquilo que quero dizer.

A Mulher Mais Bonita do Mundo.- José Luís Peixoto



Parnasianismo
No parnasianismo, o enfoque na mulher era sensual, a ênfase era colocada em suas características físicas. Aqui se procura uma poesia mais cerebral, onde o belo deveria ser alcançado por meio de um trabalho meticuloso. Eles tinham uma visão diferente dos românticos, sobre a mulher, sua visão era mais carnal.

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

Alguém - Gonçalves Crespo, in 'Miniaturas

Modernismo

Esta escola repudiava os clássicos, opondo-se às regras e modelos, procurando a total liberdade de criação, além de defender a "impureza" dos gêneros literários.

Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.

Seus seios altos parecem
(Se ela tivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem Ter que haver madrugada.

E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.

Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?

Dá a Surpresa de Ser - Fernando Pessoa

Considerações Finais:

A mulher na literatura portuguesa tinha infinitas formas de como eram descritas. Cada escola literária tem sua característica e opinião sobre o assunto. Algumas compartilham ideais iguais, sobre o assunto, mas sempre com uma diferença relevante.
Ao compararmos as várias obras que retratam a mulher em diferentes escolas literárias, podemos identificar as variações de conceitos e ideologias modificadas com o tempo. Mesmo hoje, o texto sobre a mulher sofre consequências derivadas deste contexto histórico relevante para a formação ideológica no que se diz respeito aos direitos, cotidiano e características da mulher.


Referência Bibliográfica:


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