Introdução
A
maior parte dos poetas portugueses, em seus poemas, exaltam as mulheres. Outros
poetas fazem exatamente o contrário, reduzem sua imagem física e
intelectualmente, e em alguns casos até as culpam por seus fracassos. A
descrição da mulher, nos poemas, é realizada através de detalhes sentimentais,
passando assim, a ideia de que ela seja a origem do sentimento.
A sobrevalorização concedida
tradicionalmente a uma figura feminina que viveu entre o século XVII e primeiras
décadas do século XVIII, fez com que a mulher fosse considerada por muitos um
ícone.
Dentre
as escritoras portuguesas que ficaram na obscuridade ou semiobscuridade, Soror
Mariana, a qual teria escrito as famosas Cartas Portuguesas pode ser em
parte causa da relativa obscuridade das Autoras portuguesas contemporâneas e
que viveram nos séculos seguintes. Isto porque, conforme a posição defendida por
Klobucka na sua obra a atribuição da Autoria de Cartas Portuguesas
a Mariana Alcoforado é, ao que tudo indica fictícia, tendo o mesmo acontecido
com Violante de Cisneyros e outras ficções de autoria masculina atribuída à
pena feminina, tradição que recua até à época medieval com as cantigas de
amigo. O que não significa que a obra não tenha exercido influência nas obras
que são de fato de autoria feminina em Portugal, influência essa que se
manifesta em várias autoras do século XX, como acontece com a poesia de
Florbela Espanca.
Os conceitos ideológicos comparados ao
decorrer dos séculos
Trovadorismo
A
mulher no trovadorismo tinha algumas semelhanças e diferenças. No trovadorismo
a mulher era desejada pelos homens, era tida como um ideal masculino. Chegava
um ponto que os homens escreviam cantigas para as moças. Hoje em dia o homem
conquista a mulher de outra forma.
A
mulher na Sociedade Medieval aprendia cedo os afazeres domésticos. Ela não
trabalhava, se comprometendo, desta forma, somente as atividades domésticas e à
educação dos filhos. Não interferia nas decisões políticas e praticamente não
tinha direitos, suas obrigações eram, resumidamente, saber se portar diante de
outras pessoas. Os pais eram quem designavam às filhas com quem iriam se casar.
“Marinha, o teu folgar
tenho eu por desacertado,
e ando maravilhado
de te não ver rebentar;
pois tapo com esta minha
boca, a tua boca, Marinha;
e com este nariz meu,
tapo eu, Marinha, o teu;
com as mãos tapo as orelhas,
os olhos e as sobrancelhas,
tapo-te ao primeiro sono;
com a minha piça o teu cono;
e como o não faz nenhum,
com os colhões te tapo o cu.
E não rebentas, Marinha?”
(Afonso
Eanes de Coton)
Renascimento
Ao longo do tempo, a mulher era considerada como objeto de
reprodução e como dona de casa. Ela não tinha o poder de mandar e nem de
expressar suas ideias. Inconformadas, muitas mulheres se rebelaram, muitas
tiveram que dar a sua própria vida em troca de uma posição melhor na sociedade,
principalmente no trabalho, na política, e nos direitos sociais.
Contudo, nessa época, muitas se destacaram. Com o passar do tempo, a visão que a sociedade e
principalmente os homens tinham em relação à mulher, foi mudando. Com isso,
elas foram conquistando seu espaço na sociedade, conseguindo empregos e seus
direitos.
O preconceito ainda não morreu dentro das pessoas, mas está
desaparecendo. Na atualidade, há mulheres que têm se destacado muito mais na
área do trabalho do que os homens. Porém, devido ao preconceito que ainda
existe na sociedade, o salário da mulher não é devidamente remunerado.
Classicismo
A arte clássica era naturalista e objetiva; a realidade era
idealizada pelo artista. A mulher amada era descrita como um ser
celestial, igual aos anjos; a natureza era vista como uma região paradisíaca,
onde a paz e a harmonia de bosques e florestas eram mostradas.
Barroco
A
mulher barroca é descrita nos poemas como alguém dual, incapaz de receber
somente elogios, pois neste período passa-se a perceber o outro lado feminino,
aquele que não é apenas positivo, mas também negativo, acabando-se, assim, com
a concepção da figura do ser perfeito. É comum, ao Barroco, mostrar a
dualidade, os dois polos opostos -, em que nada é tão positivo, nada é tão
negativo, tudo tem os dois lados.
Sempre mostrada em termos de excelência, a mulher
foi vista como um ser desejado pela beleza do seu corpo e cujos atributos
superavam tudo quanto à natureza pudesse oferecer de belo. Se, por um lado, a
mulher barroca foi apresentada como exemplo de beleza, paradoxalmente, ela
tornou-se alvo, também, de críticas. Deste modo, salientaram-se algumas
imperfeições e defeitos físicos, e alguns vícios repulsivos, como a ganância
por dinheiro e a ambição desmedida. A licenciosidade de certas mulheres também
não escapou ao reparo dos poetas.
Arcadismo
A mulher no arcadismo teve uma grande divulgação
pelo Bocage, árcade, já é romântico por temperamento. Dentro desta temática, outro procedimento
típico da poesia árcade de Bocage é a comparação entre a mulher amada e a
natureza. Evidentemente, como seria de se esperar, o resultado de tal processo
é a constatação da beleza incomparável da mulher. Encontramos, ainda, textos em
que a alegria dos amantes é tão grande que pode despertar a inveja dos deuses.
Nascemos para
amar; a Humanidade
Vai, tarde ou
cedo, aos laços da ternura.
Tu és doce
atractivo, ó Formosura,
Que encanta, que
seduz, que persuade.
Enleia-se por
gosto a liberdade;
E depois que a
paixão na alma se apura,
Alguns então lhe
chamam desventura,
Chamam-lhe
alguns então felicidade.
Qual se abisma
nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves
júbilos discorre,
Com esperanças
mil na ideia acesas.
Amor ou
desfalece, ou pára, ou corre:
E, segundo as
diversas naturezas,
Um porfia, este
esquece, aquele morre.
Nascemos para Amar - Bocage, in 'Sonetos'
Romantismo
A mulher, entre os românticos, aparece
convertida, em anjo, em figura poderosa, inatingível, capaz de mudar a vida do
próprio homem. A mulher era vista pelos escritores românticos como um ser
distante, que era idealizado por aquele que amava. Esta idealização se expressava
nos elogios de que era objeto e na sensação de que não se era digno de merecer
o amor desta mulher. No período romântico a mulher vivia essencialmente no
ambiente doméstico, ou como ajudante nos ambientes sociais, acompanhando o
cavalheiro, servindo-lhe de adorno. As leituras femininas circunscreviam-se, em
sua maioria, aos romances franceses, enquanto os homens aventuravam-se pela
política, pela filosofia e pelas ciências em geral.
Estás tão bonita
hoje. Quando digo que nasceram
Flores novas na terra
do jardim, quero dizer
Que estás bonita.
Entro na casa, entro
no quarto, abro o armário,
Abro uma gaveta, abro
uma caixa onde está o teu fio
De ouro.
Entre os dedos,
seguro o teu fino fio de ouro, como
Se tocasse a pele do
teu pescoço.
Há o céu, a casa, o
quarto, e tu estás dentro de mim.
Estás tão bonita
hoje.
Os teus cabelos, a
testa, os olhos, o nariz, os lábios.
Estás dentro de algo
que está dentro de todas as
Coisas, a minha voz
nomeia-te para descrever
A beleza.
Os teus cabelos, a
testa, os olhos, o nariz, os lábios.
De encontro ao
silêncio, dentro do mundo,
Estás tão bonita é
aquilo que quero dizer.
A Mulher Mais Bonita do Mundo.- José Luís Peixoto
Parnasianismo
No parnasianismo, o enfoque na mulher era
sensual, a ênfase era colocada em suas características físicas. Aqui se procura
uma poesia mais cerebral, onde o belo deveria ser alcançado por meio de um
trabalho meticuloso. Eles tinham uma visão diferente dos românticos, sobre a
mulher, sua visão era mais carnal.
Para alguém sou
o lírio entre os abrolhos,
E tenho as
formas ideais de Cristo;
Para alguém sou
a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra
existe, é porque existo.
Esse alguém, que
prefere ao namorado
Cantar das aves
minha rude voz,
Não és tu, anjo
meu idolatrado!
Nem, meus
amigos, é nenhum de vós!
Quando, alta
noite, me reclino e deito,
Melancólico,
triste e fatigado,
Esse alguém abre
as asas no meu leito,
E o meu sono
desliza perfumado.
Chovam bênçãos
de Deus sobre a que chora
Por mim além dos
mares! esse alguém
É de meus olhos
a esplendente aurora;
És tu, doce
velhinha, ó minha mãe!
Alguém - Gonçalves Crespo, in 'Miniaturas
Modernismo
Esta escola repudiava os clássicos, opondo-se às
regras e modelos, procurando a total liberdade de criação, além de defender a
"impureza" dos gêneros literários.
Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro
escuro.
Faz bem só pensar em
ver
Seu corpo meio maduro.
Seus seios altos
parecem
(Se ela tivesse
deitada)
Dois montinhos que
amanhecem
Sem Ter que haver
madrugada.
E a mão do seu braço
branco
Assenta em palmo
espalhado
Sobre a saliência do
flanco
Do seu relevo tapado.
Apetece como um
barco.
Tem qualquer coisa de
gomo.
Meu Deus, quando é
que eu embarco?
Ó fome, quando é que
eu como?
Dá a Surpresa de Ser - Fernando Pessoa
Considerações Finais:
A
mulher na literatura portuguesa tinha infinitas formas de como eram descritas.
Cada escola literária tem sua característica e opinião sobre o assunto. Algumas
compartilham ideais iguais, sobre o assunto, mas sempre com uma diferença
relevante.
Ao
compararmos as várias obras que retratam a mulher em diferentes escolas
literárias, podemos identificar as variações de conceitos e ideologias
modificadas com o tempo. Mesmo hoje, o texto sobre a mulher sofre consequências
derivadas deste contexto histórico relevante para a formação ideológica no que
se diz respeito aos direitos, cotidiano e características da mulher.
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