No programa “Mais Médicos” do governo
federal foram confirmados pelo ministério da saúde 18.450 médicos inscritos no
primeiro ciclo de contratação, com o intuito de atender a 3.511 municípios no
sistema único de saúde (SUS). Os médicos (em sua maioria de nacionalidades cubana,
argentina e espanhola) estão sendo direcionados a cursos de saúde básica,
sistema de saúde brasileira e língua portuguesa.
Estes profissionais, por sua vez,
encontrarão muitas dificuldades, como postos de saúde superlotados e falta de
estrutura, medicamentos e aparelhos. Muitos deles já haviam atuado em programas
como “Médicos Sem Fronteiras”, onde a escassez de recursos é frequente e os
problemas linguísticos também são encontrados, porém estes fatores não os
impediram de salvar vidas.
Atualmente de acordo com o portal R7 de
jornalismo, 3.663 médicos já desembarcaram e beneficiam 12,8 milhões de
brasileiros. Atendendo a 1.098 municípios e 19 distritos indígenas, em sua
maioria no norte e nordeste.
Um dos principais problemas no programa
Mais Médicos é o fato de ser visto com aversão por uma maioria brasileira. O
programa visa resolver um problema imediato no Brasil, mas estes profissionais
irão enfrentar a falta de apoio médico, enfermeiros e auxiliares, além de terem
de se adaptar às variedades linguísticas do país (a comunicação entre médico e
paciente é umas das principais queixas da população). Uma vez que já não temos uma
estrutura básica aceitável para atender às demandas de pacientes, a dificuldade
na comunicação pode agravar ainda mais o caso.
Porém, se pensarmos no caso do programa “Médicos
Sem Fronteiras”, podemos verificar uma vertente na situação, afinal, a grande
maioria destes médicos atuou em países da África, Haiti e na Ásia, e ainda com
toda dificuldade linguística e de estrutura (que muitas vezes tinha que ser completamente
improvisada nestes países), eles fizeram a diferença salvando vidas e desdobrando-se
para encontrar saídas para doenças sem o apoio de aparelhos médicos. No Brasil,
no entanto, estão recebendo curso de língua portuguesa para enfrentar uma
grande barreira linguística, e ao final do curso, se não apresentarem um
desempenho satisfatório, podem ser mandados de volta a seus países.
No inicio do curso, o ministro da saúde Alexandre
Padilha, ponderou que os médicos terão ajuda com a língua e serão avaliados por
suas capacidades de comunicação e expressão. O ministro também afirmou que ele
mesmo já atendeu vários indígenas (mesmo sem saber uma palavra indígena), o que
não o impediu de realizar o seu trabalho como médico satisfatoriamente, pois contava
com o apoio de enfermeiros e agentes de saúde indígenas, apoio o qual também
terão acesso os médicos estrangeiros.
Isso nos leva a crer que as dificuldades
linguísticas dos médicos podem ser superadas cada vez mais com o tempo de
trabalho, já que o curso será disponibilizado via online para os profissionais
durante os três anos do programa. Os próprios médicos alegam que o maior
desafio é com a questão linguística, e até um dicionário com dialeto e gírias
locais foi disponibilizado a estes profissionais.
A língua portuguesa acabou, portanto, se
tornando um instrumento médico, que pode salvar vidas. A importância da
comunicação se tornou mais acentuada, nos mostrando cada vez mais que a
capacidade de expressão e interpretação é tão necessária quanto um remédio para
a cura de uma doença.
Esperemos então que esta medida do governo
não seja só mais uma ação política, e que estes médicos, mesmo não tendo que
passarem pelo Revalida (exame nacional de revalidação do diploma médico), demonstrem a competência nas
formas de comunicação e nas ações que precisamos no sistema de saúde público
brasileiro. Esperemos também que logo, todos eles não precisem mais dos intérpretes
no atendimento aos pacientes, e que eles aprendam o nosso bom português, em suas
variações, para que não haja confusões como na simples palavra “grávida”, que
em espanhol é “embarazada”.