domingo, 9 de junho de 2013

O gênero "Frase" e a manipulação da opinião pública

Identificação, coleta e análise crítica sobre o Gênero Textual “Frase” dentro do campo jornalístico e seu processo de manipulação do leitor. Pesquisa  desenvolvida pelas alunas do 1º semestre de Letras – Noturno para a Disciplina de Gêneros Textuais.
 
INTRODUÇÃO
 
Dentre os vários gêneros textuais, destaca-se um novo gênero nomeado “frase”, o qual está presente em diversos suportes do meio comunicativo. 
 
Oralmente ou verbalmente, a frase manifesta-se nas produções textuais presentes no dia a dia, seja numa propaganda, numa manchete e até mesmo num aviso. O estudo a seguir discorrerá sobre esse novo gênero textual através de um texto dissertativo, informando sobre as suas características, formas de uso, estruturação etc. Para validação, serão apresentadas frases inseridas no discurso jornalístico, as quais serão analisadas com o intuito de demonstrar como ocorre o processo de manipulação do leitor frente a uma curta expressão, permitindo assim diversas interpretações.
 
As características que fazem com que os exemplos façam parte do gênero textual “frase”, a intencionalidade do autor para com o leitor, a situacionalidade e a estruturação destas frases exemplificadas também serão apontadas para o melhor entendimento.
 
 CARACTERIZAÇÃO DO GÊNERO TEXTUAL “FRASE”
 
Os gêneros textuais são de suma importância para o ensino/aprendizagem e uma sugestão dos Parâmetros Curriculares Nacionais, posto que em toda comunicação utiliza-se gêneros textuais e ao utilizarmos em sala de aula, os alunos têm contato com uma diversidade de textos, muitas vezes já conhecidos por eles, mas de uma forma mais concreta e aprofundada.
 
Após os estudos de Bakhtin sobre gêneros e de estudos posteriores de outros linguistas e gramáticos, a definição de gênero tornou-se ampla e aberta, se tratando de um conjunto de produções verbais bem organizadas e estruturadas, tanto orais como escritas.
 
Partindo dessa ampla definição, surge então o gênero “frases”, veiculado nos domínios discursivos revistas e jornais. Para identificá-lo, os jornais e revistas utilizaram-se dessa nomenclatura. Dentro do domínio discursivo, o gênero “frases” surge geralmente em uma seção nas paginas iniciais, intitulada ou não.  Como exemplos de títulos temos a retrospectiva (melhores frases de um período), o bate-boca (frases contrapostas com declarações entre locutores ou sobre um tema) e o humor, classificado em ironias, tautologias, subentendidos, ambiguidades etc.
 
Em relação a sua estrutura, o gênero frases compõe-se de duas partes: a fala do locutor e o contexto do editor. A ordem é a fala em primeiro plano, seguida do contexto que é composto da identificação do locutor, um aposto que identifica sua profissão ou cargo, um aposto com uma informação adicional (caso o locutor não seja tão conhecido ou com uma critica/sátira do editor) e uma breve explicação do assunto ou tópico da fala (este podendo ser opinativo ou informativo). Sua estrutura pode ser completa (quando essas informações aparecem) ou incompleta (quando não se têm todas essas informações).
 
Para entender a fala do locutor é necessário que se tenha o contexto e este pode ser classificado em contexto informativo (traz somente informações, bem objetivas, sem constar a opinião do editor), contexto atrelado (há a necessidade de saber a fala anterior e outros meios, para se entender o texto) e contexto interpretativo ou tendencioso (quando há a opinião do editor e, além disso, o leitor é convidado a compreender as intenções do editor e a refletir e opinar também).
 
O gênero frase não pode ser analisado separadamente, mas a fala do locutor em conjunto com o contexto do editor torna-se o texto. As fontes utilizadas para a escolha das frases, pelos editores são orais (anotadas e gravadas de entrevistas e outros eventos comunicativos) e escritas (cartazes, faixas, jornais, revistas e redes sociais).
 
Analisando o aspecto temporal as “frases” podem ser situadas (falas de eventos comunicativos atuais, como questões políticas, sociais e escândalos, com a necessidade de o leitor saber os acontecimentos atuais) e eternas (falas atemporais, que possuem o mesmo significado e efeito independente da época que é veiculada, normalmente de escritores famosos e cientistas, não precisam ser atuais e não exige que o leitor saiba os acontecimentos atuais).
 
Existem alguns tipos de locutores, a saber: locutores adultos de renome (nacionais ou internacionais), crianças e adolescentes, pessoas do povo (anônimos) e instituições.
 
Ao inserir o estudo do gênero “frases” na sala de aula, o professor terá facilidade, pois o texto é de fácil leitura, abrange todas as matérias (dependendo da fala do locutor e do contexto), as frases tanto podem trazer acontecimentos atuais como mensagens atemporais, promove o contato com os domínios discursivos e pode estimular discussões produtivas, formadoras de cidadãos mais cultos e conscientes.

COLETA DE AMOSTRAS E ANÁLISE CRÍTICA
 
O corpus de pesquisa escolhido para o estudo do Gênero “Frase” foi a seção “Veja Essa” publicada semanalmente na Revista Veja como veremos a seguir:
 
“O estádio será para os corintianos o que Israel é para os Judeus”
LUÍS PAULO ROSENBERG, vice-presidente do Corinthians, no Wall Street Journal
Revista Veja, Edição 2.309 de 20 de fevereiro de 2013 – página 57
 
A frase em destaque apresenta características de humor subentendido, pois, por trás do que foi dito o leitor pode ler as entrelinhas. Ela está inserida em um contexto atrelado já que é do senso comum que Israel para os Judeus é a “Terra Prometida”, o lugar sagrado que pertence e identifica seu povo. Assim como Israel, o estádio do Corinthians representa o território da “nação corintiana”. Apesar de apresentar uma estrutura incompleta (informa locutor de renome e aposto, mas não identifica a situação / momento na qual foi dita) não deixa de ser uma frase com característica eterna / atemporal. A intenção do autor é exaltar a imagem do time Paulista perante os demais.
 
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“É sintomático o número de integrantes da suposta quadrilha. Treze é também o número do Partido dos Trabalhadores”
MARCO AURÉLIO MELLO, ministro do Supremo, ao condenar os mensaleiros por formação de quadrilha.
Revista Veja, Edição 2.293 de 31 de outubro de 2012 – página 72
 
Inserida em um contexto tendencioso, com forte característica de humor subentendido, a frase acima ao comparar o número de condenados (13) com o número do Partido dos Trabalhadores, está sarcasticamente envolvendo o PT no mensalão. Além disso, no sentido implícito da palavra “sintomático” a revista tem a intenção de passar ao leitor a mensagem que uma doença (o mensalão) é sintoma de outra (O Partido dos Trabalhadores). Por ser uma frase situada, dentro de um intenso cenário político, a revista fornece todas as informações necessárias para seu entendimento - locutor de renome, aposto e ocasião.
 
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 “Os líderes chineses estão sendo substituídos (“O grande teste da China”, 24 de outubro) e o  mundo tem mesmo de ficar atento, pois as correções de rota lá se refletem aqui.”
JOSÉ ELIAS ALEX NETO, Foz do Iguaçu – PR
Revista Veja, Edição 2293 de 31 de outubro de 2012 – página 34
 
Esta frase por apresentar uma estrutura incompleta utiliza um elemento coesivo para elucidar o leitor quanto a situacionalidade do contexto. Pertence ao contexto atrelado por ser situada em determinado momento da política chinesa. Não possui aposto ou ocasião definida, e ainda, conforme o capítulo estudado, o locutor é caracterizado como pessoa do povo (individual explicito).
Ao publicar esta frase, a revista quer demonstrar ao público que os seus leitores não só acompanham suas matérias como também participam delas, emitindo suas críticas, sugestões etc.
 
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“Vossa Excelência advoga para ele (Marcos Valério)?”
JOAQUIM BARBOSA, relator do processo do mensalão, ao discutir as penas para o réu com o colega revisor do processo, Ricardo Lewandowski
 
“Não. Vossa excelência faz parte do Ministério Público? ”
RICARDO LEWANDOWSKI, revisor do processo retrucando
 
“Aqui não advogamos para ninguém!”
CARLOS AYRES BRITTO, presidente do STF, pondo ordem na casa e fim numa discussão que acabou em pedido de desculpas e rapapés
Revista Veja, Edição 2293 de 31 de outubro de 2012 – página 72

Com característica de Bate-Boca, estas frases estão inseridas no contexto atrelado, pois remetem aos fatos ocorridos no plenário nacional em outubro de 2012. Em um primeiro momento, o leitor pode pensar que a revista está somente relatando o andamento do processo, mas além de utilizar uma estrutura completa (locutor de renome, aposto e ocasião) o comentário “pedido de desculpas e rapapés” expressa uma crítica da revista e tem a intenção de influenciar o público com uma imagem de descaso e desordem nas decisões que são tomadas no plenário.
 
 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Este trabalho teve como objetivo identificar os elementos que caracterizam o gênero textual frase dentro do discurso jornalístico, analisar e mostrar suas formas de uso, a maneira que o autor emprega este tipo de gênero, suas finalidades bem como a interação autor-editor-leitor e sua intencionalidade.
As frases utilizadas como exemplos foram retiradas da revista Veja e analisadas com base no terceiro capítulo do livro Gêneros Textuais e Ensino (vide bibliografia). Espera-se, com essa proposta, colaborar com o avanço dos estudos na área de gêneros textuais e melhor compreender o gênero em questão.
 
 BIBLIOGRAFIA
 
PEDROSA, Cleide E.F. “Frases: caracterização do gênero e aplicação pedagógica”. In: DIONISIO, A.P.; MCHADO, A.R.; BEZERRA, M.A. (org). Gêneros Textuais & Ensino. São Paulo, Parábola, 2010. 

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